Apesar de mais raras nos dias de hoje, as iniciativas de diretores que querem levar às telas algo além de entretenimento estimula o cinema a se reinventar. Através do ímpeto dessas peças que formam a engrenagem da indústria cinematográfica, podemos ser levados a uma reflexão e à admiração de uma obra de arte. Consagrado no Globo de Ouro deste domingo (11), o filme "Boyhood", do diretor Richard Linklater, faz um convite simples e irrecusável ao espectador: o de sentar em frente a uma tela e, simplesmente, admirar.
A trama de "Boyhood" foi criada de uma forma pouco habitual. Para retratar a vida de uma família norte-americana e, especialmente, o crescimento de um menino, Linklater decidiu reunir um elenco e acompanhar o envelhecimento dessas pessoas com sua câmera durante 12 anos. Assim, a história começa nos apresentando Mason (Ellar Coltrane), um menino de seis anos que mora com a mãe (Patricia Arquette) e a irmã (Lorelei Linklater).
Querendo mostrar a rotina de uma família, o diretor escolheu não criar situações fantasiosas ou carregadas no drama, mas sim acompanhar as mudanças dos personagens a partir de experiências corriqueiras e possíveis. Com isso, a história é conduzida a partir de aspectos que movem o dia a dia, como a busca da mãe pela felicidade com um novo parceiro; as descobertas de Mason na chegada à adolescência; e, também, a relação dos filhos com o pai (Ethan Hawke), que constituiu uma nova família após a separação.
Todos esses acontecimentos triviais surpreendem no resultado final. No começo, observamos que o ritmo do filme é moroso, o que pode incomodar alguns. Mas, em seguida, é possível perceber que faz todo o sentido que o filme seja assim, já que procura retratar o dia a dia de uma família comum. Afinal, a vida é feita de um conjunto de rotinas e acontecimentos corriqueiros interrompidos, apenas algumas vezes, por eventos grandiosos e extraordinários. Essa simplicidade do roteiro mostra-se fascinante durante o filme.
A grande experiência de "Boyhood", no entanto, é visual. Através da câmera de Linklater, somos conduzidos a uma viagem pelo futuro de menino travesso e ingênuo que, com o passar dos anos, amadurece e precisa lidar com dilemas que envolvem a escolha de uma carreira profissional e os primeiros relacionamentos com garotas. Ao escolher não utilizar recursos tecnológicos ou de maquiagem para mostrar essa passagem de tempo, o diretor faz essa experiência ser única e contagiante.
Em meio aos tempos agitados em que vivemos, "Boyhood" parece um apelo para deixarmos de lado a correria do dia a dia e, por um instante, olharmos pela janela, só para ver a vida passar. Mesmo não sendo meu favorito ao Oscar, não será injusto se "Boyhood" levar a estatueta, já que o filme, além de entreter, conseguiu o feito de chamar a atenção do público para a beleza de se contemplar a vida e valorizar os pequenos momentos que a cercam.
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