Todo ano é a mesma coisa. Entre os indicados nas categorias do Oscar, sempre há aquele filme que, logo de cara, traz um aviso inicial: "baseado em uma história real". Nos últimos tempos, também não foram raras as vezes em que mais de um longa aposta em retratar uma história verídica. Agora, "Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo" foi indicado a cinco prêmios da Academia, mas, contrariando premiações anteriores, não foi cotado como melhor filme pelos votantes. Assistindo ao longa, que estreia nesta quinta-feira (22), no Brasil, é fácil entender os motivos para que ele não fosse selecionado na categoria.
"Foxcatcher" começa apresentando a história de Mark Schultz (Channing Tatum), um campeão olímpico de luta greco-romana que sempre treinou com o irmão, David (Mark Ruffalo). Buscando se destacar mais na carreira, Mark visita John DuPont (Steve Carell) e recebe o convite para treinar na equipe Foxcatcher, mantida pelo milionário. Seduzido pela estrutura e pelo salário, o campeão aceita a proposta e se muda para a propriedade de DuPont.
Mark e o milionário constroem, ao que parece, uma relação de amizade que, aos poucos, mostra-se nociva para o campeão, que começa a ser influenciado pelos efeitos do álcool e das drogas. Já não rendendo como deveria nos treinos e nas competições, Mark é surpreendido quando DuPont traz David para trabalhar como auxiliar no treinamento dos atletas da Foxcatcher. Transferindo as esperanças e desejos de fazer a equipe prosperar, o milionário acaba provocando conflitos na relação dos três, o que culmina em uma tragédia.
Dirigido por Bennett Miller, "Foxcatcher" tenta ser um bom filme sobre os aspectos psicológicos da relação do milionário com os dois atletas olímpicos, mas fica longe desse propósito. Isso se dá por conta da superficialidade com que os personagens são abordados. Marcados por características como narcisismo, autoafirmação, pretensão e orgulho, personagens como DuPont e Mark não têm seus conflitos internos bem explorados pelo roteiro, que só os mostra em situações rasas e que dizem pouco sobre a tragédia que vai chegar.
Esse tratamento superficial na história prejudica em cheio a narrativa do filme. A escolha por uma condução mais lenta, que privilegiaria os aspectos psicológicos e tornaria a trama mais tensa, não funciona, já que os personagens são mal explorados. Isso faz com que o longa seja chato na maior parte do tempo. "Foxcatcher" até melhora nos últimos 40 minutos, quando a história ganha ares mais densos, mas aí já é tarde demais.
Indicadas ao Oscar, as atuações de Steve Carell e Mark Ruffalo são boas e merecem a lembrança na premiação. Carell, muito melhor do que de costume, prova que pode fazer trabalhos mais interessantes do que as comédias cretinas que o tornaram famoso. Em "Pequena Miss Sunshine", o ator já tinha mostrado que pode ser uma boa escolha para papéis diversificados. Já Ruffalo está carismático como o preocupado irmão do personagem de Channing Tatum, que, por sua vez, não consegue esconder a falta de habilidade dramática.
"Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo" decepciona ao errar na condução da história e em não explorar boas nuances dos personagens principais. As escolhas do roteiro e da direção prejudicam muito o longa e, nem de longe, valorizam as boas atuações de Carell e Ruffalo. Que bom que a Academia não deixou que os erros do longa ofuscassem o desempenho dos dois, que merecem o reconhecimento pelos personagens.
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