"O Jogo da Imitação" destaca narrativa instigante e boas interpretações

Sempre que falamos em cinema, rapidamente, somos remetidos às influências de Hollywood no mercado mundial. Uma outra fatia da indústria cinematográfica, no entanto, vem mostrando sua força e, nos últimos anos, emplaca filmes de boa qualidade. Os ingleses, com seu tradicionalismo e comprometimento, levaram suas características para as telas e, hoje, ocupam um espaço importante no mercado, com ótimas contribuições para a sétima arte, como é o caso de "O Jogo da Imitação", filme que concorre em sete categorias do Oscar neste ano.
Ambientada na Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundial, a trama mostra a contribuição do matemático Alan Turing (Benedict Cumberbatch) para o fim do conflito com a Alemanha de Hitler. Excepcional com os números, o protagonista se une a um grupo para tentar decifrar um complexo código nazista de comunicação, conhecido como "O Enigma". Como muitos gênios, Turing é cheio de manias, rituais e dificuldades de se relacionar com os colegas de trabalho. 
A arrogância e a autossuficiência do protagonista fazem com que o grupo de decodificadores duvide das habilidades de Turing, que insiste em construir uma máquina que seria capaz de "quebrar" o código nazista. Quando as dúvidas vão embora, todos da equipe passam a trabalhar para que o equipamento funcione, mesmo correndo contra o tempo para tentar evitar as investidas de Hitler pela Europa.
Em meio aos dramas do trabalho, Turing vive conflitos para esconder sua homossexualidade, considerada crime na época. O matemático constrói uma relação de amor e companheirismo com Joan Clarke (Keira Knightley) e, até mesmo, cogita se casar com ela, mas não consegue negar suas preferências. Mesmo prestando relevantes serviços para o mundo, o matemático enfrenta as autoridades do país quando sua sexualidade é descoberta, sendo condenado a uma castração química que tem um efeito devastador sobre o gênio.
Dirigido por Morten Tyldum e baseado em uma história real, que ficou escondida durante muitos anos da sociedade, "O Jogo da Imitação" é um filme muito correto sobre um novo aspecto da guerra. Muito mais centrado nos bastidores do que no conflito propriamente dito, o longa acerta nos diálogos impecáveis e, também, no foco da narrativa que, em idas e vindas no tempo, nos apresenta um personagem extremamente complexo cuja inteligência é fundamental para a vitória dos Aliados no conflito da época. 
O elenco de "O Jogo da Imitação" é excelente, a começar por Benedict Cumberbatch. Depois de bons personagens menores, como no excelente "Álbum de Família", o ator conquista um instigante protagonista e não faz feio ao levar às telas sua mente perturbada. É nítida a entrega de Cumberbatch ao personagem, que se alterna em momentos de profunda introspecção e euforia. Atuação digna de Oscar, que pode não vir por conta da popularidade de Michael Keaton em "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). O resto do elenco, todo inglês, também é formado por bons profissionais, como Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Allen Leech e Charles Dance.
Com estreia prevista para 5 de fevereiro no Brasil, "O Jogo da Imitação" é um filme muito inglês, qualidade esta que pode ser atribuída à competência da narrativa e precisão das interpretações. Há quem diga que o filme é muito tradicional, mas, no caso, não considero que isso seja um defeito, já que a construção do roteiro mostra-se acertada e instigante. Além disso, é um filme indispensável para vermos a consolidação de um nome que promete ser fundamental para o cinema daqui em diante: o de Benedict Cumberbatch.


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