Retomada inteligente da franquia "Rocky" é enfraquecida por roteiro óbvio de "Creed"

Desde o ano passado, filmes que retomam franquias de sucesso do cinema têm surgido e, em sua maioria, têm cumprido com louvor a árdua tarefa de criar novos argumentos para histórias já conhecidas do grande público. "Mad Max", "Star Wars" e "Missão Impossível", para citar alguns souberam se reinventar e presentearam o público com ótimas continuações em 2015. Agora, mais uma clássica série de filmes busca conquistar os espectadores: é a volta de Rocky Balboa, personagem eternizado por Sylvester Stallone que, agora, tenta transmitir seu legado a um novo lutador em "Creed: Nascido Para Lutar", que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas brasileiros.
Na história, o jovem Adonis Johnson nunca conheceu o pai e, depois que a mãe morre, passa a frequentar instituições para menores infratores, por conta de seu temperamento agressivo. Em uma dessas detenções, ele é resgatado por Mary Anne (Phylicia Rashad), que revela ser a esposa do pai de Adonis, o grande lutador Apollo Creed. Criado pela mulher, o jovem cresce com conforto e sob a influência do legado deixado pelo pai.
Já adulto e interpretado por Michael B. Jordan, Adonis concilia lutas não-oficiais com uma carreira corporativa no mercado financeiro. As raízes falam mais alto e o rapaz decide ser um boxeador profissional, para desgosto da mulher que o criou, traumatizada pela morte de Apollo e pelos riscos que o esporte proporciona. Para tentar construir sua história no boxe, Adonis larga a vida em Los Angeles para tentar a sorte na Filadélfia.
Na nova cidade, o filho de Apollo decide se dedicar ao esporte, mas, para isso, fica convencido que o melhor jeito de se tornar um grande boxeador é ser treinado por Rocky Balboa (Stallone), que se afastou dos ringues e leva uma vida pacata cuidando de um restaurante. Com certa resistência, o famoso lutador é convencido a treinar o filho de seu grande amigo. Galgando seu lugar ao sol, Adonis concilia seus treinos com o início de um relacionamento com a cantora Bianca (Tessa Thompson).
Prestes a ter uma grande oportunidade na carreira, Adonis precisa encarar obstáculos, como a influência do nome Creed na construção de sua identidade de boxeador, para conquistar um lugar entre os grandes nomes do esporte. Para completar, ele se vê cada vez mais ligado a Rocky, que, por sua vez, tem que lidar com a descoberta de uma doença.
Antes de tudo, é preciso dizer que "Creed: Nascido Para Lutar" nasceu de um argumento inteligente e eficiente para a retomada saudável da franquia "Rocky". A proposta de trazer, em primeiro plano, o desabrochar de um novo personagem, ligado à história antiga e tendo o clássico boxeador como mentor, mostrou uma escolha extremamente acertada. Essa opção de construir uma nova geração para a série de filmes, respeitando as referências anteriores, é, sem sombra de dúvidas, o melhor do filme.
A partir dessa proposta, apenas uma coisa seria capaz de prejudicar a empreitada: a má execução da narrativa. E é justamente isso o que acontece. Durante, mais ou menos, a primeira hora de exibição, "Creed: Nascido Para Lutar" acerta na narrativa e no ritmo, que até chega a surpreender, mostrando não ser apenas um filme sobre a construção e vitória de um mito do esporte. O longa derrapa, no entanto, a partir da metade, quando aposta em soluções fáceis e previsíveis para mostrar o treinamento de Adonis, rumo ao desafio que pode torná-lo conhecido pelo esporte, e, também, o estreitamento de sua relação com Rocky Balboa. 
O roteiro guardava, ainda, um outro bom argumento: a humanização do bruto e robótico Rocky Balboa. Além da construção do afeto com o filho de seu grande amigo, a doença do lutador poderia servir como um bom gancho para conferir um lado mais humano e crível para o clássico personagem. Essa tentativa, no entanto, também é esvaziada pela falha no roteiro, que usa recursos narrativos óbvios demais para retratar o enfrentamento da doença pelos personagens e, ainda, a trajetória de treinos da dupla principal, agora afetada pelas fragilidades trazidas pelo tratamento. 
A direção de Ryan Coogler se mostra um dos acertos do filme, que mescla boas sequências de tensão e drama. A forma como as referências à franquia "Rocky" são abordadas também representam uma boa escolha do cineasta, que utiliza elementos clássicos, entre eles a trilha sonora e a famosa subida da escadaria, como detalhes afetivos e homenagens ao legado da série de filmes protagonizados por Stallone. Essa opção representa um alivio, já que o contrário poderia deixar a impressão de que "Creed" almejava ser uma cópia barata de "Rocky: Um Lutador".
Vencedor do Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante e indicado ao Oscar na mesma categoria, Stallone continua o mesmo em cena. Inexpressivo e com sérias dificuldades em construir um personagem mais sólido, o intérprete do clássico boxeador pode ser apontado como um dos fatores para a falha na tentativa de humanizar Rocky Balboa, virtude claramente apontada pelo argumento do filme, mas que é prejudicada pela falta de talento do ator. Com certeza, Stallone não se mostra merecedor do Globo de Ouro que recebeu pela performance. Já Michael B. Jordan, mesmo ainda longe da excelência, consegue ser eficiente no papel do filho do lutador Apollo Creed.
Mesmo com a boa intenção de retomar uma franquia a partir de um novo e inteligente olhar, "Creed: Nascido Para Lutar" não consegue passar de um filme médio, enfraquecido pelos caminhos óbvios seguidos pelo roteiro. Criatividade na narrativa e uma humanização coerente do personagem poderiam ter sido bons ingredientes para que a franquia de Rocky Balboa fosse retomada com tudo nos dias atuais.

CREED: NASCIDO PARA LUTAR

COTAÇÃO: ★★ (regular) 



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