Academia faz escolha confortável por "Spotlight" e se redime de injustiça com DiCaprio

Spotlight
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood refletiu, como de costume, em um ou outra categoria, o pensamento tradicional e confortável de seus membros. Isso pode ser constatado na escolha por "Spotlight", eleito o melhor filme e, também, vencedor do Oscar de roteiro original. A decisão foi a mais confortável possível, já que o longa, mesmo com uma história interessante, é conduzido de forma nada original e "no piloto automático" pelo diretor Tom McCarthy, que imprime, inclusive, uma sensação de indiferença ao tema. O resultado monótono, apesar do imenso potencial, deixou para trás filmes infinitamente mais bem executados, como "Mad Max: Estrada da Fúria", "O Regresso" e "A Grande Aposta".
Também deixou a impressão que a escolha por "Spotlight" foi provocada pela importância do enredo, que trata do trabalho de jornalistas para revelar os abusos sexuais cometidos por padres em Boston. Se a categoria fosse "melhor tema", talvez a escolha não fosse tão questionável, mas o fato é que "Spotlight" não era o melhor filme ali e, muito menos, o melhor roteiro. A escolha da Academia foi tão equivocada que, em alguns anos, quando alguém perguntar que filme ganhou o Oscar em 2016, pouca gente vai lembrar.
Os atores Mark Rylance e Alicia Vikander,
eleitos os melhores coadjuvantes
Os membros da Academia continuaram com a "política da boa vizinhança" e dividiram os prêmios de melhor filme e direção entre duas produções. O diretor premiado foi Alejandro González Iñarritu, responsável pelo filme "O Regresso", um trabalho ótimo, sem sombra de dúvidas. Não é possível dizer que o cineasta não merecia, mas, por ser o segundo ano seguido que o diretor vence, o mais merecedor era George Miller, por "Mad Max". Independente do resultado, ainda soa esquisito que o melhor diretor não tenha dirigido o melhor filme. Como isso se explica? A Academia quer agradar todo mundo.
Além de "Spotlight", outro prêmio esquisito da noite foi para Mark Rylance, escolhido o melhor ator coadjuvante e tirando o prêmio do favorito Sylvester Stallone. Com um papel em um filme ruim ("Ponte de Espiões"), Rylance não fez nada de excepcional e era facilmente superado por três dos outros concorrentes: Tom Hardy, Christian Bale e Mark Ruffalo. Mesmo achando Stallone um péssimo ator e, portanto, não merecedor da estatueta, até a premiação dele seria mais justa.
Mas, nem só de injustiças vive a Academia. Os votantes acertaram em dar a maior parte dos prêmios técnicos para "Mad Max", que saiu da festa com seis Oscars; em reconhecer o grande trabalho do compositor Ennio Morricone, premiado pela trilha do filme "Os Oito Odiados"; em premiar Alicia Vikander como melhor atriz coadjuvante por "A Garota Dinamarquesa"; e em exaltar o desempenho da atriz Brie Larson, uma das forças que move o longa "O Quarto de Jack".
Leonardo DiCaprio e Brie Larson, 
os melhores atores do Oscar 2016
A Academia ainda se redimiu da injustiça, cometida há anos, com o ator Leonardo DiCaprio, que finalmente venceu o Oscar pelo filme "O Regresso". Já merecedor por seu desempenho em "O Lobo de Wall Street" e por "Django Livre", o ator, mais do que muitos outros com menos talento, teve que provar que era muito mais do que o galã de "Titanic", mas, finalmente, chegou lá.
Apresentada pelo insuportavelmente chato Chris Rock, a cerimônia foi conduzida, principalmente, por piadas sobre a principal polêmica que envolveu a premiação em 2016: a questão racial. O fato de nenhum negro ter sido indicado para as principais categorias, pelo segundo ano seguido, foi alvo dos deboches do apresentador e da Academia. A escolha por essa linha de apresentação, no entanto, mostrou-se exagerada e deixou a festa monótona. No meio das piadas, algumas bem sem graça inclusive, verdades foram ditas: são os produtores, estúdios e diretores que devem ser cobrados pela diversidade nos elencos das produções. A Academia é a última instância disso tudo e, dentro de um panorama apresentado, apenas escolhe os destaques dentro de um cenário de filmes lançados. O protesto é justo e chama atenção para a questão do preconceito, mas é preciso que esses direitos sejam cobrados dos verdadeiros responsáveis.

Mad Max - Estrada da Fúria foi o grande vencedor, com seis estatuetas

Confira os vencedores do Oscar 2016 por categoria:

Melhor Filme: "Spotlight"

Melhor Diretor: Alejandro González Iñarritu, por "O Regresso"

Melhor Ator: Leonardo DiCaprio, por "O Regresso"

Melhor Atriz: Brie Larson, por "O Quarto de Jack"

Melhor Ator Coadjuvante: Mark Rylance, por "Ponte de Espiões"

Melhor Atriz Coadjuvante: Alicia Vikander, por "A Garota Dinamarquesa"

Melhor Roteiro Adaptado: "A Grande Aposta"

Melhor Roteiro Original: "Spotlight"

Melhor Trilha Sonora: Ennio Morricone, por "Os Oito Odiados"

Melhor Canção Original: "Writing´s On The Wall" - Sam Smith, por "007 contra Spectre"

Melhor Filme Estrangeiro: "O Filho de Saul" (Hungria)

Melhor Documentário: "Amy"

Melhor Documentário em Curta-metragem: "A Girl In The River - The Price Of Forgiveness"

Melhor Animação: "Divertida Mente"

Melhor Curta de Animação: "Bear Story"

Melhor Curta-metragem: "Stutterer"

Efeitos Visuais: "Ex-Machina"

Mixagem de Som: "Mad Max - Estrada da Fúria"

Edição de Som: "Mad Max - Estrada da Fúria"

Montagem: "Mad Max - Estrada da Fúria"

Fotografia: Emmanuel Lubezki, por "O Regresso"

Cabelo e Maquiagem: "Mad Max - Estrada da Fúria"

Design de Produção: "Mad Max - Estrada da Fúria"

Figurino: "Mad Max - Estrada da Fúria"

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