Desde a infância, assimilamos à figura do herói características como honra, comprometimento, justiça, ética e outras inúmeras qualidades que fazem com que muitos meninos vistam capas e uniformes para "salvar a humanidade". Com o tempo, percebemos que o mundo é menos maniqueísta do que imaginávamos e que "bem" e "mal", geralmente, se misturam no meio do caminho. Totalmente longe de qualquer conceito que defina um super-herói, está "Deadpool", o personagem da Marvel que, agora, protagoniza seu primeiro filme.
O personagem logo deixa isso bem claro: ele é super, mas não tem nada de herói. Como toda história de origem, somos apresentados à vida pregressa do protagonista. Wade Wilson (Ryan Reynolds) é um mercenário que vive de serviços nada honrados. Sua vida ganha novos contornos quando conhece Vanessa (Morena Baccarin) e se apaixona por ela. Quando o relacionamento dá um passo mais sério, Wilson descobre ter câncer terminal, o que desestrutura o protagonista.
Para tentar driblar a morte, Wilson aceita participar de um tratamento científico que promete curá-lo. A experiência é comandada por Ajax (Ed Skrein), um mutante com intenções escusas para ajudar o protagonista e outros como ele. O experimento ativa genes mutantes em Wilson, dando a ele habilidades especiais, mas, também, acaba afetando sua aparência. Feito prisioneiro por Ajax, Wilson consegue se libertar e assume a identidade de Deadpool, um homem mascarado, violento e irônico que se dedica a caçar seus inimigo e obrigá-lo a reverter os efeitos da experiência.
Dirigido por Tim Miller, "Deadpool" é diferente de qualquer filme de super-herói. O principal aspecto do longa é a forma como a origem daquela figura é apresentada, através de uma narrativa não-linear, que vai e volta no tempo para explicar como Wade Wilson vira Deadpool. Essa opção deixa tudo mais interessante e menos comum. A motivação do personagem também é um diferencial da trama. Aqui, o herói é levado por razões egoístas e só quer saber de buscar vingança. É bem verdade que, ao combater Ajax, ele, por tabela, também luta contra as experiências realizadas pelo antagonista, o que, consecutivamente, acaba salvando outras vidas, mas esse não é o intuito do personagem. Deadpool quer salvar o seu mundo, não o planeta.
O grande mérito de "Deadpool" é o tom cômico impresso pelos diálogos. Cheio de malícia, deboche e ironia, o personagem fica longe do politicamente correto e é responsável por frases engraçadas, que beiram (e ultrapassam) a vulgaridade, mas divertem na mesma proporção. As citações e referências a filmes e outros elementos da cultura pop são eficientes e garantem bons momentos. É bom ver que o longa não se leva a sério e sabe tirar sarro de si mesmo e de outros. Funciona bem ver Reynolds fazendo piada com seu passado de "Lanterna Verde" e, até mesmo, com as escolhas de sua carreira de ator. Da mesma forma, também são boas as piadas com a franquia "X-Men".
A comédia ainda presta um serviço fundamental ao filme. Na segunda metade da história, depois que todas as motivações e origem do personagem já estão na mesa, "Deadpool" ganha uma narrativa tradicional e bem óbvia, com recursos e ganchos preguiçosos para amarrar o roteiro. Isso faz o filme ser um fiasco? Não, nem de longe, mas há um fator determinante para isso: o humor. Quando tudo parece comum, Deadpool surge com uma piada maliciosa e irônica, que acaba maquiando as fragilidades da história. No fim, depois das risadas, esquecemos o quão óbvio foi o caminho que os personagens percorreram para chegar ali. Se não fosse uma comédia, talvez o filme fosse um desastre.
Com a estreia de "Deadpool", muitos críticos chegaram a dizer que Ryan Reynolds se redimiu de outros trabalhos ruins, entre eles, o Lanterna Verde e outros tantos papéis fáceis de comédias românticas. Eu acho que não é para tanto. O ator está, de fato, muito melhor do que de costume e agrada no resultado final. Em alguns momentos, porém, fica claro que Reynolds não alcança o tom da comédia, fracassando a piada. Isso, entretanto, não é só culpa dele, mas, também, de quem o dirigiu. Também é importante destacar Morena Baccarin, brasileira mais conhecida na televisão, que leva seu carisma, beleza e talento para a tela grande.
Em cartaz nos cinemas, "Deadpool" resulta em um bom filme, diferente do que se está habituado no gênero. O deboche e a ironia da comédia, marcados, inclusive, por cenas em que o protagonista quebra a "quarta parede", são fundamentais para o resultado satisfatório, mesmo que a preguiça do roteiro fique evidente na segunda metade do longa. Deadpool traz, ainda, a qualidade de mostrar que o heroísmo não se encontra apenas na honradez constante do Capitão América ou no comprometimento de um Homem de Aço, mas pode estar presente em alguns momentos e atitudes de um mascarado violento, imperfeito como todo mundo.
DEADPOOL
COTAÇÃO: ★★★ (bom)
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