Criada em 2001, a categoria de melhor filme de animação no Oscar foi um justo reconhecimento ao gênero, que, a cada ano que passa, cresce mais e apresenta novidades. A adesão do prêmio à categoria há apenas 15 anos não quer dizer que nunca houve espaço para os desenhos na Academia, muito pelo contrário, os estúdios Disney estão aí para comprovar. Com certeza, dado o crescimento do mercado, houve a necessidade de colocar esses longas em uma categoria própria, o que os colocou ainda mais em evidência.
Neste ano, quatro boas animações disputam a estatueta da Academia. O curioso é que, muito mais do que em outros anos, o destaque é que elas trazem histórias mais adultas, que provocam reflexões sobre o mundo em que vivemos, dramas pessoais e construção de personalidade. Com exceção de uma delas, as outras três podem ser facilmente consumidas pelo público infantil. São os adultos, no entanto, aqueles capazes de aproveitá-las plenamente, uma vez que podem contemplar a estética dos filmes e, ao mesmo tempo, aproveitar suas reflexões.
Ainda entre os indicados de 2016, há uma animação feita em stop-motion, dos mesmos criadores de "A Fuga das Galinhas" e "Wallace & Gromit", que acabou destoando das concorrentes por apresentar uma história sem qualquer atrativo e, de certa forma, até bem boba. Para entender um pouco mais a categoria neste ano, vamos conhecer mais detalhadamente os indicados:
- Divertida Mente
Criação da Pixar, "Divertida Mente" é a grande obra do estúdio. Partindo de um tema muito abstrato, o filme cria todo um universo de cores, formas e conceitos para falar sobre a mente humana e a construção da personalidade. A história se passa dentro da cabeça de uma adolescente que precisa aprender a lidar com a influência de emoções, como raiva, alegria, tristeza, nojo e medo. O resultado agrada em cheio as crianças, mas é com os adultos que a trama fala mais alto. "Divertida Mente" propõe, aos mais maduros, uma reflexão sobre a importância de deixar que determinadas emoções aflorem em certos momentos da vida. Favorita ao Oscar, deve ser a vencedora, se levarmos em conta outras premiações anteriores.
- As Memórias de Marnie
Os japoneses são responsáveis por ótimas animações e, nesse cenário, o estúdio Ghibli sempre se destacou com belas e criativas histórias, como "A Viagem de Chihiro" e "Vidas ao Vento", longas do famoso diretor Hayao Miyazaki. Agora, existe a expectativa de que o estúdio deixe de trabalhar com animações de traço mais convencional, o que será uma pena. Antes de isso acontecer, o Oscar não deixou passar despercebido o que seria o último filme do estúdio nesse estilo. "As Memórias de Marnie" conta a história de uma garota solitária que perdeu os pais muito nova e foi adotada. Com um problema de saúde, ela viaja para se tratar e conhece Marnie, uma misteriosa menina que aparece para mudar sua vida. O longa, como outros trabalhos do estúdio, tem uma história interessante, cercada de influências sobrenaturais e elementos da natureza, e uma estética muito bonita, com cores vibrantes e traços impecáveis.
- O Menino e o Mundo
O Brasil está no Oscar, neste ano, através do filme do diretor Alê Abreu. Com uma estética incomum e extremamente bonita, o longa se passa durante a viagem de um menino em busca do pai, que deixou a família para trabalhar na cidade grande. Nessa trajetória, o garoto acaba entrando em contato com a dura realidade do mundo, influenciado pelo poder do capitalismo e por desigualdades sociais. O tema maduro é retratado de forma lúdica e suave, o que permite o diálogo, também, com o público infantil. Mas, de novo, é com os adultos que o filme estabelece um contato mais próximo e reflexivo. Vencedor de mais de 40 prêmios em festivais, "O Menino e o Mundo" merece estar entre os indicados e, enfrentando estúdios gigantes, talvez tenha na lembrança da Academia o melhor prêmio. Mas, nada é impossível. Um Oscar seria bem-vindo e, de forma alguma, poderíamos dizer que será injusto.
Responsável por roteiros de filmes como "Quero Ser John Malkovich" e "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", Charlie Kaufman decidiu se aventurar na animação. A escolha pelo gênero, no entanto, não significou que o diretor e roteirista quis estabelecer um diálogo com o público infantil, muito pelo contrário. A animação em stop-motion é só a forma que Kaufman escolheu para falar de problemas muito complexos e adultos. No longa, Michael (voz de David Thewlis) viaja para Cincinnati e, à espera de uma palestra sobre o mundo corporativo, conhece Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), uma mulher insegura e com baixa autoestima. Os dois engatam um relacionamento e começam a fazer planos para o futuro, mas a "vida real" e infeliz de Michael, que envolve esposa e filho, passa a assombrar esse planejamento. Com direito a nudez frontal e até uma cena de sexo, bem realista por sinal, "Anomalisa" é a única representante da lista que é exclusivamente feita para adultos e que propõe uma boa história sobre a complexidade de questionamentos e sentimentos que envolvem a vida.
O longa de Richard Starzak e Mark Burton é o equívoco do ano no Oscar. A animação inglesa, dos mesmos produtores de "A Fuga das Galinhas" e "Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais", destoa das outras concorrentes por um aspecto crucial: a história. Apesar de tecnicamente bem feito, "Shaun, O Carneiro" tem um roteiro bobo e sem atrativos, seja para o público infantil ou para os adultos. Cansado da rotina na fazenda, o carneiro protagonista arma contra o fazendeiro para fazê-lo ficar fora enquanto os animais aproveitam o dia. O plano, no entanto, dá errado e o fazendeiro vai parar na cidade grande, o que faz com que Shaun siga as pistas até o dono para levá-lo de volta. Situações clichê e uma duração muito longa para tanta falta de assunto, "Shaun" nem deveria ter sido indicado. Outras animações, aposto, poderiam ocupar essa vaga.
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