Problemas na narrativa e falta de carisma da protagonista impedem "Brooklyn" de ser melhor

Em quase todos os anos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood escolhe, para figurar entre os indicados ao Oscar, uma produção pequena que, por um motivo ou outro, acaba encantando os votantes do prêmio. O representante da vez é o drama inglês "Brooklyn", que concorre a três estatuetas, entre elas, Melhor Filme, Atriz e Roteiro Adaptado.
Ambientada nos anos 50, a história começa na Irlanda e mostra a jovem Eilis Lacey (Saoirse Ronan), que, sem oportunidade de trabalho no país, consegue um visto e uma passagem para os Estados Unidos, que, naquela época, carregava ainda mais a imagem de terra das oportunidades. Depois de uma longa viagem de navio, ela chega à Terra do Tio Sam e instala em uma pensão no Brooklyn, bairro conhecido por receber membros da colônia irlandesa. 
No início, Eilis não se habitua ao novo trabalho e  vive infeliz por não se sentir em casa. A jovem ainda se ressente por ter deixado Rose (Fiona Glascott), a irmã mais velha, sozinha para cuidar da mãe na Irlanda. Auxiliada pelo padre Flood (Jim Broadbent), Eilis se matricula na faculdade de contabilidade, o que dá novo sentido à nova vida. Os sentimentos dela sobre a nova empreitada começam a mudar, no entanto, quando ela conhece o italiano Tony Fiorello (Emory Cohen).
Depois de alguns encontros e bailes e cinemas do bairro, o casal assume um relacionamento sério, com direito a um jantar na casa da família do noivo, maior e com um comportamento bem mais expansivo do que a jovem estava habituada. Eilis, então, recebe a notícia da morte da irmã e precisa voltar para a Irlanda. Antes, porém, o casal decide se casar escondido e faz planos para o futuro. De volta à casa da mãe, novas oportunidades de vida aparecem para Eilis, inclusive envolvendo Jim Farrell (Domhnall Gleeson), que não sabe do marido que a jovem deixou nos Estados Unidos.
Dirigido por John Crowley e como de costume nas produções inglesas, é preciso dizer que a maior qualidade de "Brooklyn" é sua técnica impecável. O longa possui uma bela ambientação de época e uma fotografia agradável, que utiliza luzes e cores distintas para retratar as diferenças da vida da protagonista na América e na Irlanda. 
O filme, no entanto, apresenta problemas que o impedem de prosperar. A narrativa tem um ritmo muito arrastado no início, que cansa e faz a história demorar a engrenar. O roteiro perde muito tempo com um período menos importante para a trama e, depois, aproveita de forma acelerada momentos que poderiam trazer melhores conflitos e nuances para os personagens. 
Outro ponto que deixa a desejar é a atuação de Saoirse Ronan, indicada ao Oscar pelo papel. A atriz não consegue emprestar carisma suficiente à personagem. No início, mesmo precisando imprimir uma personalidade mais apagada, Saoirse não estabelece a empatia necessária para que o espectador se sinta tocado pela trajetória da personagem. Ela, é bem verdade, se torna mais simpática nos momentos felizes da protagonista, especialmente quando Eilis está com o namorado, mas a atriz não segura o filme nos momentos mais dramáticos e cruciais para a história.
Em cartaz nos cinemas, "Brooklyn" é um filme singelo, que traz uma técnica impecável e que, por isso, não chega a ser ruim. O problema é que a história também não empolga e ele acaba sendo um daqueles que você vê e esquece em seguida. Seus problemas de narrativa e com a protagonista acabam não justificando suas indicações ao Oscar. Outros longas que ficaram de fora mereciam mais.

BROOKLYN

COTAÇÃO: ★★ (regular)



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