Em uma indústria cada vez mais influenciada pelo ritmo acelerado e padronizado das produções, pode-se dizer que poucos diretores conseguem impor um estilo como o de Zack Snyder. A seu favor, conta o fato de ele ter um olhar apurado sobre a construção das cenas, apresentadas para "encher" os olhos e as telas. A grandiloquência do cineasta, no entanto, também pode ter um efeito contrário, quando Snyder perde o controle de seus ímpetos e exagera, comprometendo, assim, o universo que ajudou a criar. Soma-se a isso o fato de o diretor ter claros problemas com as narrativas que leva às telas. Bom, tudo até aqui é necessário para dizer que "Batman vs Superman: A Origem da Justiça", para o bem e para o mal, é um filme inconfundivelmente assinado por Snyder.
A história é retomada a partir da grande batalha do desfecho de "O Homem de Aço", também do diretor, filme que retomou a origem do Superman nos cinemas. Diante de tanta destruição provocada em Metrópolis, Bruce Wayne (Ben Affleck) passa a enxergar Superman (Henry Cavill) como uma possível ameaça ao planeta, uma vez que seus poderes são ilimitados e não há aparentemente nada que possa detê-lo.
Do outro lado, Superman, ou Clark Kent nas horas vagas, também mostra ter ressalvas sobre a atuação sombria e violenta de Batman em Gotham City. É, no entanto, na falta de limites dos poderes do Homem de Aço que se concentra a trama, que ainda traz uma discussão política proposta pela senadora Finch (Holly Hunter) sobre a influência do mito do herói para o humanidade.
Em meio ao conflito entre os heróis, que provoca o tão esperado embate que dá nome ao filme, ainda está Lex Luthor (Jesse Eisenberg), o surtado vilão que valoriza o poder acima de tudo e descobre que o "calcanhar de Aquiles" do Superman está em um mineral extraterrestre. Pronto, para não estragar nenhuma surpresa, esse é o simples resumo que dá para fazer.
Como dito anteriormente, "Batman vs Superman" tem o selo Zack Snyder de direção e isso fica explícito logo de cara através das cenas em câmera lenta, closes detalhistas e da estética grandiosa, muito criada a partir de efeitos especiais. É importante destacar que o diretor se mostra extremamente zeloso na concepção da cada uma das cenas e, nesse aspecto, consegue prender a atenção do espectador.
A maior qualidade do diretor, no entanto, enfatiza o pior dos seus defeitos. O extremoso cuidado de Snyder com a forma como as cenas serão apresentadas acaba "acendendo um holofote" na sua falta de habilidade para conduzir narrativas. Em "Batman vs Superman", isso fica muito claro, pois o filme demora a engrenar. Arrastado na primeira parte, apesar do conflito interessante apresentado, o longa só cresce quando a ação se faz mais presente e permite que o diretor dê maior vasão aos seus conceitos estéticos.
O roteiro da dupla Chris Terrio e David S. Goyer poderia ser melhor se não quisesse "abraçar o mundo" e se dedicasse a desenvolver melhor apenas algumas histórias. Estão ali: os conflitos do Batman, os dilemas do Superman, as preocupações da sociedade com os poderes do Homem de Aço, as pretensões de Lex Luthor, a ameaça do Apocalipse, a chegada da Mulher Maravilha, a futura formação da Liga da Justiça, tudo em pouco mais de duas horas e meia de filme. Esse excesso prejudica o desenrolar da história, que pouco sai da superficialidade.
A necessidade de um roteiro mais enxuto fica evidente em muitas das cenas da primeira metade do longa, que remetem a pesadelos dos personagens e ajudam a reforçar o ritmo arrastado imposto pela direção. Apesar de válida, a introdução a outros personagens do universo da DC Comics, como Aquaman e Flash, que mais tarde formarão a Liga da Justiça, é óbvia e totalmente desnecessária dentro do contexto do filme.
Gerando muitas expectativas anteriores ao lançamento, a atuação de Ben Affleck como Batman incomoda. Limitado, como sempre foi, o ator não consegue expor as camadas e traumas que formam a personalidade do Homem-Morcego, mesmo tendo à mão uma nova abordagem do personagem, mais sombrio e violento. Já Henry Cavill parece mais seguro na figura do Superman, mas não foge do confortável. Os destaques positivos ficam por conta de Jesse Eisenberg, com seu Lex Luthor louco e afetado, mesmo que lembre um pouco o Mark Zuckerberg de "A Rede Social"; e a sempre ótima Amy Adams, que cria uma Lois Lane de aparência frágil, mas de força incontestável.
O resultado dessa nova empreitada do universo DC nos cinemas é um filme de extremos. Com qualidades, como as boas sequências de ação, a estética e o zelo de Snyder para criar cenas, "Batman vs Superman" também sofre de defeitos que não permitem que o longa vá além, como os problemas com a narrativa e com o roteiro muito abrangente, mas nem tão eficiente. No fim, o saldo acaba sendo regular, mais pelo aspecto visual. Parece importante, para as próximas empreitadas do gênero, no entanto, que haja mais cuidado e dedicação com o conteúdo que será apresentado.
BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA
COTAÇÃO: ★★ (regular)
Comentários
Postar um comentário