"Capitão América: Guerra Civil" impressiona pela qualidade do roteiro e eleva patamar da Marvel


Quem vê os filmes de heróis hoje, talvez nem se lembre que o gênero já foi considerado menor, marcado por investimentos restritos e tramas simplórias. Isso começou a mudar e ganhar novos contornos quando a Marvel entrou de cabeça na sétima arte e começou, em "Homem de Ferro" a construir nas telas um universo próprio. Muitos filmes e oito anos depois, o estúdio lançou "Capitão América: Guerra Civil" e atingiu a excelência, elevando o patamar da Marvel e ditando o tom das produções que ainda estão por vir.
Seguindo a cronologia estabelecida nos longas anteriores, "Guerra Civil" retoma acontecimentos vistos em "Vingadores" e "Soldado Invernal". Agora, o Capitão América (Chris Evans) continua atuando como líder do grupo de heróis e realizando missões pelo mundo. Ao lado da Viúva Negra (Scarlett Johansson), Falcão (Anthony Mackie) e da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), ele segue para evitar uma ameaça na Nigéria. A ação do grupo acaba resultando na morte de alguns civis, reacendendo uma discussão sobre a responsabilidade dos atos dos heróis. 
Somando, também, os acontecimentos em Nova York, Washington e Sokovia, o secretário de Estado americano Thaddeus Ross (William Hurt) procura o grupo com a proposta da assinatura de um tratado, apoiado por mais de 170 países, que propõe sanções de controle sobre os heróis. As medidas são apoiadas por Tony Stark (Robert Downey Jr.) e dividem o grupo, tendo, do outro lado, a resistência ferrenha do Capitão América.
Para agravar ainda mais a crise, na assinatura do tratado, em Viena, uma explosão acaba matando mais pessoas, entre elas, um rei africano. As evidências apontam que a ação foi executada por Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan), o que faz com que o Capitão América se dedique a encontrá-lo e provar que o amigo não foi responsável pela bomba.
A "cruzada" do Capitão América faz com que o herói e todos que o apoiam tornem-se "criminosos" aos olhos daqueles que defendem o controle sobre suas ações, incluindo Stark. A divisão do grupo fica ainda mais evidente, culminando em uma batalha marcada por vingança, revelações e ressentimentos do passado. É melhor parar por aqui, para não correr o risco de dar spoilers.


Dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, "Capitão América: Guerra Civil" tem como principal qualidade o roteiro maduro, que vai além do convencional e leva as histórias de heróis para outro nível. Mais do que a tradicional disputa entre o bem e o mal, a trama traz um olhar mais complexo e mescla temas interessantes, como política e poder. A narrativa é uma das mais bem amarradas dos últimos tempos no cinema, apresentada de forma mais ampla e em diversas frentes no início, mas que, depois, converge com uma coerência poucas vezes vista na telona.
Também é importante destacar que roteiro e direção souberam deixar clara a identidade do filme. Não há dúvida de que o espectador está vendo um filme da franquia "Capitão América", mesmo que haja pontos em comum com os demais longas do universo Marvel. O diálogo com "Vingadores", "Homem de Ferro" e, até mesmo, com as séries de televisão, está claramente estabelecido, mas o tom da história segue a linha das outras produções do herói principal.
Da mesma forma, a introdução e construção dos personagens são igualmente bem resolvidas. Sem exceção, levando em consideração os graus de importância, todos estão ali com funções bem definidas e com arcos narrativos desenhados claramente e com eficiência para a história. A introdução do Pantera Negra (Chadwick Boseman), por exemplo, se encaixa perfeitamente ao enredo e não deixa margem para dúvidas sobre a presença do personagem. A participação do novo Homem-Aranha (Tom Holland) serve à trama como um alívio cômico e também é bem apresentado, deixando o caminho aberto para a nova fase do herói, cujo controle criativo voltou à Marvel.
"Capitão América: Guerra Civil" dá uma aula de bom desenvolvimento de roteiro, com começo, meio e fim bem amarrados e claros ao espectador. Esse mérito, com certeza, deve ser atribuído ao cuidado que a Marvel tem em construir o universo que tanto deseja compartilhar com o público. Só por isso, o filme já poderia ser considerado bom. Mas, todas as outras qualidades, como atuações, cenas de ação e direção eficientes. Isso faz o longa inaugurar um novo momento e elevar, ainda mais, o patamar dos filmes do estúdio. Que venham os próximos, que terão, por obrigação, manter o nível lá em cima.

CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)


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