"A Chegada" constrói ficção científica inteligente e ganha com talento de Amy Adams

A ficção científica é um gênero, geralmente, muito complicado de ser feito, porque, na intenção de explicar a trama ao espectador, é quase inevitável que a história pegue quem assiste "pela mão" e caia em um certo didatismo. Mas, "A Chegada", do diretor Denis Villeneuve, que recebeu oito indicações ao Oscar, passa longe disso e, sem subestimar o público, constrói uma trama instigante e muito inteligente, além, é claro, de ter um fator determinante para o sucesso do filme: Amy Adams.
"A Chegada" trata da vinda de seres misteriosos, que se posicionam em diversos pontos da Terra. À bordo de estruturas, que se assemelham a conchas, eles chamam a atenção dos governos e serviços de segurança por não fazerem nenhum movimento e, muito menos, atacarem o planeta que visitam. Com receio que a presença dos visitantes possa ameaçar a humanidade, militares dos Estados Unidos procuram Louise Banks (Amy Adams), uma especialista em linguística, para tentar decifrar a comunicação com esses seres.
Encabeçada pelo coronel Weber (Forest Whitaker), a operação de contato ainda conta com Ian Donnelly (Jeremy Renner), que ajuda Louise nas tentativas de se comunicar com os extraterrestres. O receio inicial com os visitantes logo é deixado de lado em nome da curiosidade. Constantemente pressionados por resultados, eles logo têm contato com um intrigante sinal, que se mostra a chave para o entendimento da linguagem dos seres desconhecidos.
O processo moroso de descoberta dessa forma de comunicação não agrada os chefes de governos, que decidem iniciar ofensivas contra as "conchas" dos extraterrestres, mesmo sem saberem se, de fato, aquelas criaturas estavam ali para ameaçar a Terra. Logo, Louise descobre que aquela experiência pode estar ligada a aspectos de sua vida pessoal, que podem influenciar no futuro.
Depois dos ótimos "Os Suspeitos" e "Sicario", Villeneuve volta a mostrar que é um dos cineastas mais talentosos da atualidade. Em "A Chegada", ele apresenta uma atmosfera densa, que cria um suspense progressivo dos mais interessantes. O diretor conduz com muita precisão e sem qualquer exagero a ambientação e as cenas de contato com os extraterrestres, além de direcionar o drama pessoal da protagonista também sem qualquer excesso. Com a câmera aberta, ele também é responsável por belas imagens, concebidas em conjunto com a fotografia de Bradford Young.
A escolha do roteiro em criar uma narrativa não-linear faz toda a diferença para alimentar o suspense que o filme precisa. Mesmo que possa ser considerada lenta, a trajetória da protagonista para desvendar a linguagem dos extraterrestres se mostra absolutamente coerente com a conclusão do filme. Merece destaque, também, o fato de o roteiro ter conseguido evitar ser explicativo demais, o que enfraqueceria a narrativa. Aqui, o discurso é deixado de lado e os acontecimentos é que vão costurando o conceito.
Mas, "A Chegada" não seria o mesmo se não fosse o talento e o carisma de Amy Adams, inexplicavelmente esnobada pelo Oscar para estar entre as indicadas a melhor atriz. Comedida, ela consegue transmitir toda a humanidade e angústia da personagem apenas pelo olhar ou por gestos simples. Em outros momentos, a atriz ganha uma força que "engole" a cena.
A inteligência da narrativa faz de "A Chegada" uma ficção científica diferenciada, que, além de abordar questões relacionadas a seres extraterrestres, também traz uma história humana muito envolvente. O longa é mais um que desperta atenção e curiosidade ao trabalho de Villeneuve, que, até aqui, tem dado boas contribuições ao cinema moderno.

A CHEGADA

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)


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