"A Qualquer Custo" impressiona com faroeste moderno e roteiro inteligente

Em um mundo globalizado e conectado, parece quase não haver mais espaço ou relevância para a rotina de lugares isolados e "perdidos no tempo". O modo de vida das pessoas que vivem em locais como esse é uma das temáticas de "A Qualquer Custo", um faroeste moderno, indicado a quatro estatuetas no Oscar, que cria uma história inteligente sobre a vingança de um homem comum, farto das injustiças impostas pela vida.
Resgatando um gênero que marcou o cinema, mas em desuso nos dias atuais, o longa apresenta dois irmãos que vivem no interior do Texas, nos Estados Unidos. Tanner (Ben Foster) acabou de sair da prisão e Toby (Chris Pine) está recém-divorciado e se dedica a cuidar da propriedade da família. Juntos, eles decidem assaltar uma rede de bancos da região para, assim, conseguir dinheiro para quitar a hipoteca do imóvel.
Para evitar ser facilmente encontrada pelas autoridades, a dupla estabelece algumas regras para os assaltos, como serem realizados pela manhã, antes da abertura das agências, e de levarem apenas notas de menor valor. Os crimes, no entanto, passam a ser investigados por Marcus Hamilton (Jeff Bridges), um policial perto da aposentadoria que se dedica de corpo e alma à derradeira tarefa.
Incansável, Hamilton faz do dever uma verdadeira e intensa caçada pelo interior do estado, gerada por muitas dúvidas sobre a motivação para os crimes, até a desastrosa ação dos irmãos a uma agência que estava fora do itinerário.
Escrito por Taylor Sheridan, "A Qualquer Custo", com um roteiro original indicado ao Oscar, traz uma história muito inteligente, que é revelada aos poucos e exige paciência do espectador. A revelação sobre a motivação para a ação dos irmãos compensa a espera e "ilumina" o enredo de forma esclarecedora. É interessante observar que o filme se propõe a falar sobre os efeitos de uma crise econômica em pessoas que levam vidas mais isoladas, distantes dos modernos centros urbanos.
Como muitas das grandes histórias, "A Qualquer Custo" mostra ter um enredo baseado em uma vingança, mas trazendo uma abordagem pouco usual e extremamente intrigante. Trata-se da vingança do homem comum, afetado por injustiças do dia a dia e que decide se rebelar contra o "domínio" de grandes corporações, que exploram suas "vantagens" em relação às pessoas.
Para executar tal história, a direção de David Mackenzie se mostrou precisa e criativa sobre a retratação daquele universo. Com uma bela fotografia, o cineasta mostra a imensidão daquela região, o que também reforma a sensação de isolamento e distância. Utilizando todos os elementos atuais, mas estabelecendo uma atmosfera dos clássicos faroestes, ele consegue, ao mesmo tempo em que revisita os clássicos, propor um novo olhar sobre um gênero em desuso.
Sobre o elenco, é importante destacar o trabalho de Chris Pine, até aqui, para mim, um ator mediano, mas que impressiona como um dos irmãos do crime. Já Jeff Bridges, que é ótimo ator, repete outros tipos já vividos por ele. Mesmo assim, um Jeff Bridges acomodado ainda está acima da média de muitos.
Menor do que outros filmes dessa leva do Oscar, "A Qualquer Custo" pode até passar despercebido para muitos, mas se mostra um filme dos mais interessantes, com uma abordagem criativa e moderna sobre um gênero clássico. Espero que essa empreitada possa inspirar outros para que o faroeste seja reavivado com inteligência.

A QUALQUER CUSTO

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)


Comentários