Amor e sexualidade ganham abordagem madura em "Me Chame pelo Seu Nome"

A adolescência é uma fase de descobertas, novos e contraditórios sentimentos e de transição para a realidade da complexa vida adulta. Não importa o gênero, a religião, as escolhas, todos enfrentam esse rito de passagem de forma mais ou menos intensa, cada um a sua maneira. As mudanças e o amadurecimento da vida de um jovem, que passa o verão na Itália e descobre o amor e a sexualidade, movem "Me Chame pelo Seu Nome", filme indicado ao Globo de Ouro e cotado para o Oscar 2018.
Dirigido por Luca Guadagnino e escrito por James Ivory, baseado no livro de André Aciman, o longa mostra a chegada de Oliver (Armie Hammer) a uma casa de veraneio para ajudar um acadêmico (Michael Stuhlbarg) com suas pesquisas sobre arte. Ele é recepcionado por Elio (Timothée Chalamet), um jovem de dezessete anos que fica incumbido de mostrar o lugar ao novo hóspede.
À princípio, Elio mostra-se arredio em relação a Oliver, se incomodando com atitudes e hábitos do visitante. Em sua rotina de música, leitura e idas ao rio, o jovem passa a encarar a presença do hóspede de outra forma, o que acaba gerando conflitos sobre os sentimentos que surgem com a convivência entre eles. Apesar de se envolver com uma jovem da região, Elio descobre que se sente atraído pelo ajudante do pai e, após incertezas e negativas, decide viver a experiência do relacionamento com Oliver.
A abordagem do amor e da sexualidade do adolescente em transição é a grande qualidade de "Me Chame pelo Seu Nome", que apresenta uma condução do roteiro muito madura sobre os temas. Sem se preocupar com rótulos, o longa é construído pelas descobertas de Elio, que, no início, não entende direito a atração por Oliver e, depois, passa a disputar a atenção do ajudante do pai, carregando, nesse processo, a imaturidade comum da idade.
Além do amor, a sexualidade é encarada de uma forma muito madura pelo roteiro, que valoriza o desejo acima de qualquer coisa. Rótulos para a relação dos personagens, como "gay" ou "bissexual" pouco importam para a construção da trama, mais interessada em mostrar o valor de se explorar todas as experiências desejadas. Isso fica claro, também, em um bonito diálogo entre Elio e o pai, depois que a relação já foi mais aprofundada.
Por falar nos pais de Elio, não é por acaso que o filme mostra que o jovem é criado em um ambiente mais liberal. Ao invés de inserir conflitos relacionados a preconceito, o longa escolhe abordar o caso de amor entre os protagonistas de forma mais leve, sem que a sexualidade e o erotismo sejam questões polêmicas. A intenção é que o espectador acompanhe a construção de um relacionamento pouco afetado por fatores externos ou julgamentos alheios.
Há, no entanto, um problema que impede que "Me Chame pelo Seu Nome" seja um êxito maior. Com quase duas horas e quinze minutos de duração, o longa claramente não traz acontecimentos suficientes que sustentem todo esse tempo de tela. Buscando construir gradativamente a relação entre os personagens, o filme acaba se repetindo e criando momentos que em nada acrescentam para a história. Meia hora a menos de narrativa, com mais objetividade, evitariam essa "barriga" e prenderiam melhor a atenção do público.
Sobre o elenco, o grande destaque é Timothée Chalamet, que passa muita sinceridade como o jovem que enfrenta as primeiras questões da vida adulta. Com sutileza nos gestos e um olhar intenso, o ator parece presença certa e indispensável entre os indicados ao Oscar. Armie Hammer, apesar de ter um personagem menos complexo, também tem seus momentos e até merece ser lembrado pela Academia.
A abordagem madura e as interpretações marcantes tornam "Me Chame pelo Seu Nome" uma bonita história sobre amor e sexualidade, que só não aparece com mais força por conta da "gordura" do roteiro, que "estica" a narrativa e enfraquece o interesse pelo desfecho. Ainda assim, a maturidade da trama é uma qualidade que deve ser enaltecida.

ME CHAME PELO SEU NOME

DATA DE LANÇAMENTO: 18 de janeiro

COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)

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