Depois do sinais dados no Globo de Ouro e no Screen Actors Guild Awards, já é possível afirmar, quase que com certeza absoluta, salvo algum azarão, que o ator Gary Oldman vai fazer um discurso segurando uma estatueta do Oscar 2018. Caso isso aconteça, não será nenhuma injustiça. Essa certeza surge imediatamente após o fim de "O Destino de uma Nação", produção que acompanha um período decisivo para a Grã-Bretanha e para um dos políticos mais conhecidos no mundo: Winston Churchill.
No filme de Joe Wright, é Oldman quem representa a figura de Churchill, escolhido para se tornar primeiro-ministro britânico em plena Segunda Guerra Mundial, o único nome aceito pela oposição para formar um governo de coalizão para um momento tão difícil. Apesar da escolha, representantes do governo e do gabinete criado para discutir as ações de guerra não sentem segurança com o novo líder. Até mesmo o rei George VI (Ben Mendelsohn) tem incertezas em relação a Churchill.
As discussões para impedir que o exército britânico sucumba ao poder bélico e estratégico de Hitler culminam na histórica Operação Dínamo, em que Churchill, apesar das ressalvas dos companheiros de governo, aposta em embarcações civis para o salvamento de mais de trezentos mil soldados britânicos que estavam presos em Dunkirk, na França. O mesmo episódio, inclusive, sob outro ponto de vista, pode ser visto em outro indicado ao Oscar: "Dunkirk", do diretor Christopher Nolan.
Ao mesmo tempo, "O Destino de uma Nação" também mostra a relação entre Churchill e a esposa, Clementine (Kristin Scott Thomas), assim com a importância que a carreira política dele influencia no relacionamento do casal. O enredo também foca na forma como Churchill lidava com as pessoas que trabalhavam com ele. Para isso, o roteiro apresenta a secretária Elizabeth Layton (Lily James), que chega para o primeiro dia de trabalho e já precisa lidar com as vontades e decisões do político.
"O Destino de uma Nação", apesar de uma produção de época caprichada e complexa, se mostra um filme relativamente simples. Contando com um roteiro muito inteligente e nada didático, o filme conta com poucos personagens no centro da ação e depende quase que totalmente do protagonista. Diante disso, Gary Oldman entrega uma interpretação visceral, intensa mesmo em momentos domésticos e mais calmos do primeiro-ministro. Irreconhecível, por conta do trabalho de maquiagem, o ator consegue manter um trabalho de expressão e muito baseado em gestos e no olhar. Até mesmo as cenas mais enérgicas do personagem, que podem sugerir um caminho mais estereotipado, são muito bem conduzidas por Oldman.
Composto por diálogos fortes, que valorizam o tom de orador de Churchill, o roteiro escolhe um caminho muito inteligente para contar o episódio histórico. Ao invés de exaltar as ações do primeiro-ministro e construir a figura de um "herói", o longa opta por retratar as fraquezas e inseguranças do político, mostrando os erros do primeiro-ministro com a mesma importância que as conquistas dele. Essa, aliás, também foi a proposta do filme "Churchill", protagonizado por Brian Cox, que até aprofunda mais alguns aspectos pessoais da vida do político.
A fotografia e a direção segura de Joe Wright ajudam a construir o tom intenso e grandioso da filme. Além de Oldman, o elenco coadjuvante também cumpre bem as obrigações, apesar do pouco espaço de tela diante do tamanho que a interpretação de Oldman ganha na tela.
Indicado a seis Oscars, "O Destino de uma Nação" chega à premiação com mãos de Oldman já muito próximas da estatueta de melhor ator. Irreconhecível, o ator deixou claro que "abriu caminho" para que Churchill aparecesse diante do público nas telas. Para isso, ele se apoia em um bom elenco, na direção de Joe Wright e no roteiro igualmente intenso e inteligente, que expõe as fraquezas do famoso primeiro-ministro e ainda cria uma narrativa de tensão progressiva.
O DESTINO DE UMA NAÇÃO
COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)
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