Aaron Sorkin é um renomado roteirista de televisão e cinema, com trabalhos elogiados nas séries "The West Wing" e "The Newsroom" e nos bons filmes "A Rede Social", "Steve Jobs" e "O Homem que Mudou o Jogo". É possível dizer, inclusive, que ele conseguiu estabelecer um estilo ao longo da carreira, que envolve narrativas não-lineares e diálogos acelerados. Sorkin decidiu dar um passo a mais e levou essa velocidade para sua primeira empreitada na direção.
Em "A Grande Jogada", Sorkin acumula as funções de roteirista e diretor para contar a história de Molly Bloom (Jessica Chastain), uma esquiadora que teve que se afastar da carreira esportiva por conta de um acidente. Se dividindo entre dois empregos, a protagonista acaba sendo convocada para ajudar a organizar jogos de pôquer clandestinos, que funcionam secretamente e reúnem ricos e famosos.
Se valendo de interpretações da lei para tentar burlá-la, a organização desses eventos logo despertam o fascínio de Molly, que mostra ter uma inteligência fora do comum e aprende logo tudo sobre as regras do jogo e a possibilidade de enriquecer com a atividade. Quando é dispensada pelo chefe, a ex-esquiadora enxerga a possibilidade de começar a fazer a diferença no ramo, organizando seus próprios eventos exclusivos de pôquer, que rapidamente se tornam conhecidos.
Seguindo o livro da verdadeira Molly Bloom, no qual o filme é baseado, a trama usa a presença do Jogador X (Michael Cera) para abordar a participação de famosos atores de Hollywood nesses eventos. No longa, o personagem é utilizado por Molly, durante um período, como um atrativo para outros jogadores comparecerem aos jogos. As coisas se complicam quando a protagonista aceita uma indicação de um participante endividado e recebe membros da máfia russa para o pôquer, despertando a atenção das autoridades sobre o envolvimento dela com os negócios dos criminosos.
Em poucos minutos, é possível perceber que "A Grande Jogada" é um filme escrito por Sorkin. O roteiro cria personagens que dialogam em uma velocidade frenética, o que exige atenção total do espectador, que corre o risco de se perder na história se decidir olhar por alguns segundos o celular ou, até mesmo, piscar. A narrativa é feita de forma não-linear, com acontecimentos passados e presentes sendo mostrados alternadamente. Sorkin usa a voz da protagonista para explica a trajetória de fracasso e sucesso de Molly Bloom, mas, ao contrário do que ocorre normalmente, o recurso funciona bem acrescentar detalhes que vão além do que está na tela. Para acompanhar seu próprio ritmo, Sorkin opta também por uma velocidade mais acelerada para a direção e a montagem do filme. O resultado não chega a ser algo espetacular, mas é uma competente primeira direção.
O elenco é outra importante qualidade de "A Grande Jogada". Auxiliados pelo diretor, os atores criam personagens coerentes com a narrativa. Jessica Chastain, habitualmente ótima, consegue equilibrar as emoções da protagonista e oferecer ao espectador, na dose certa, cada faceta de Molly Bloom, que oscila entre os problemas causados por suas escolhas e os momentos de sucesso da personagem. Aproveitando detalhes do roteiro, a atriz também mostra com precisão o sentimento da personagem ao ter de lidar e prosperar em uma área predominantemente masculina. Idris Elba também se destaca como o advogado rígido e altivo, que passa a enxergar a humanidade da protagonista.
É curioso, no entanto, que, em sua primeira incursão na direção, Sorkin escorregue justamente no elemento que domina com mais habilidade: o roteiro. Na maior parte do tempo, a narrativa é conduzida de forma interessante, com todas as características já apontadas. Mas, na parte final do filme, Sorkin empobrece a história com artifícios óbvios. A abordagem da relação entre Molly e o pai, Larry Bloom (Kevin Costner), que acrescenta elementos para a explicação da trama, se apega aos clichês e desvaloriza toda a construção anterior, resultando, também, em um final pouco empolgante, que destoa do resto.
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado neste ano, "A Grande Jogada" prende o interesse durante dois terços do filme, graças às habilidades de Sorkin para criar personagens e narrativas instigantes. O desfecho pobre, no entanto, enfraquece o filme e compromete muito o resultado, revelando um escorregão de Sorkin, que faz uma boa estreia na direção e deixa a desejar justamente no aspecto que o tornou célebre.
A GRANDE JOGADA
DATA DE LANÇAMENTO: 22 de fevereiro
COTAÇÃO: ★★★ (bom)
Se valendo de interpretações da lei para tentar burlá-la, a organização desses eventos logo despertam o fascínio de Molly, que mostra ter uma inteligência fora do comum e aprende logo tudo sobre as regras do jogo e a possibilidade de enriquecer com a atividade. Quando é dispensada pelo chefe, a ex-esquiadora enxerga a possibilidade de começar a fazer a diferença no ramo, organizando seus próprios eventos exclusivos de pôquer, que rapidamente se tornam conhecidos.
Seguindo o livro da verdadeira Molly Bloom, no qual o filme é baseado, a trama usa a presença do Jogador X (Michael Cera) para abordar a participação de famosos atores de Hollywood nesses eventos. No longa, o personagem é utilizado por Molly, durante um período, como um atrativo para outros jogadores comparecerem aos jogos. As coisas se complicam quando a protagonista aceita uma indicação de um participante endividado e recebe membros da máfia russa para o pôquer, despertando a atenção das autoridades sobre o envolvimento dela com os negócios dos criminosos.
Em poucos minutos, é possível perceber que "A Grande Jogada" é um filme escrito por Sorkin. O roteiro cria personagens que dialogam em uma velocidade frenética, o que exige atenção total do espectador, que corre o risco de se perder na história se decidir olhar por alguns segundos o celular ou, até mesmo, piscar. A narrativa é feita de forma não-linear, com acontecimentos passados e presentes sendo mostrados alternadamente. Sorkin usa a voz da protagonista para explica a trajetória de fracasso e sucesso de Molly Bloom, mas, ao contrário do que ocorre normalmente, o recurso funciona bem acrescentar detalhes que vão além do que está na tela. Para acompanhar seu próprio ritmo, Sorkin opta também por uma velocidade mais acelerada para a direção e a montagem do filme. O resultado não chega a ser algo espetacular, mas é uma competente primeira direção.
O elenco é outra importante qualidade de "A Grande Jogada". Auxiliados pelo diretor, os atores criam personagens coerentes com a narrativa. Jessica Chastain, habitualmente ótima, consegue equilibrar as emoções da protagonista e oferecer ao espectador, na dose certa, cada faceta de Molly Bloom, que oscila entre os problemas causados por suas escolhas e os momentos de sucesso da personagem. Aproveitando detalhes do roteiro, a atriz também mostra com precisão o sentimento da personagem ao ter de lidar e prosperar em uma área predominantemente masculina. Idris Elba também se destaca como o advogado rígido e altivo, que passa a enxergar a humanidade da protagonista.
É curioso, no entanto, que, em sua primeira incursão na direção, Sorkin escorregue justamente no elemento que domina com mais habilidade: o roteiro. Na maior parte do tempo, a narrativa é conduzida de forma interessante, com todas as características já apontadas. Mas, na parte final do filme, Sorkin empobrece a história com artifícios óbvios. A abordagem da relação entre Molly e o pai, Larry Bloom (Kevin Costner), que acrescenta elementos para a explicação da trama, se apega aos clichês e desvaloriza toda a construção anterior, resultando, também, em um final pouco empolgante, que destoa do resto.
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado neste ano, "A Grande Jogada" prende o interesse durante dois terços do filme, graças às habilidades de Sorkin para criar personagens e narrativas instigantes. O desfecho pobre, no entanto, enfraquece o filme e compromete muito o resultado, revelando um escorregão de Sorkin, que faz uma boa estreia na direção e deixa a desejar justamente no aspecto que o tornou célebre.
A GRANDE JOGADA
DATA DE LANÇAMENTO: 22 de fevereiro
COTAÇÃO: ★★★ (bom)
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