Além daquilo que realmente aconteceu, um fato pode ser contado através de várias outras verdades individuais. Geralmente, cinebiografias ou filmes históricos são criados a partir de uma versão sobre um tema, mas, para construir a tragicomédia "Eu, Tonya", o diretor Craig Gillespie e o roteirista Steven Rogers apostam em diferentes pontos de vista para narrar uma história real sobre um escândalo esportivo nos Estados Unidos.
A versão principal dos fatos é contada pela patinadora Tonya Harding (Margot Robbie), cuja infância e os primeiros passos na carreira esportiva são mostrados logo no início da história. Pobre e vinda de uma família problemática, a menina é levada para o esporte pela mãe, LaVona Golden (Allison Janney), que investe todo o dinheiro que a família ganha com a patinação no gelo. A relação entre as duas, no entanto, não é nada boa, com Tonya sendo alvo constante da personalidade controladora e ríspida da mãe, algo que se agrava ainda mais quando o pai da garota vai embora de casa.
Já crescida e participando de competições oficiais, a patinadora começa a entender mais sobre a carreira que escolheu, que, além do talento para o esporte, leva muito em consideração a aparência e o ambiente familiar da competidora. Isso faz com que Tonya se frustre com o tratamento dado a ele por alguns juízes de campeonatos, que a julgam além dos critérios esportivos. Buscando o reconhecimento na carreira, a jovem se dedica a executar um movimento que, até então, não tinha sido feito em competições por outras patinadoras.
Além do já conturbado ambiente familiar, Tonya começa um relacionamento com Jeff Gillooly (Sebastian Stan), que, a princípio, se mostra um homem amoroso, mas, aos poucos, revela uma personalidade violenta e descontrolada. As brigas constantes entre eles acabam em chutes e socos, que ferem, principalmente, a patinadora. Entre idas e vindas, os dois acabam se casando, mas a violência continua e a relação acaba afetando a carreira de Tonya.
Após uma participação decepcionante nas Olimpíadas e um episódio de descontrole, a patinadora se afasta das competições, mas recebe uma nova chance para tentar ganhar uma medalha olímpica. Sua principal rival nessa fase, no entanto, é a patinadora Nancy Kerrigan (Caitlin Carver), que desponta como uma das favoritas da equipe norte-americana. Tudo se complica quando Tonya se vê diante de uma conspiração, que culmina em um ataque que quebra o joelho da competidora e transforma o esporte em um caso de polícia.
O roteiro de "Eu, Tonya" é construído a partir de depoimentos dados pelas figuras envolvidas na história, simulando um falso documentário. Isso faz com que a narrativa não se prenda apenas ao fatos narrados pela patinadora e também mostre as demais versões para aqueles acontecimentos. Isso faz com que, constantemente, os personagens rompam a chamada "quarta parede" e comecem a dialogar com o espectador, quase que numa tentativa de emplacar suas verdades. É claro que, por conta disso, a história entra em contradições, mas essa parece mesmo ser a intenção do filme, que consegue, com isso, um retrato mais genuíno da vida e dos personagens retratados.
Apesar de simpatizar com aquelas figuras, em nenhum momento, a história se propõe a justificar os aspectos problemáticos e os erros deles. Para isso, por mais trágicos que sejam os episódios, a narrativa escolhe oscilar entre o deboche, a ironia e o inusitado para narrar os acontecimentos. O roteiro também carrega certa dose de crítica ao questionar o aspecto elitista do esporte em questão, o culto às aparências e, até mesmo, ao estilo de vida norte-americano. A construção do "herói" e o afinco semelhante para "destruir" essa figura diante de um espetáculo midiático também não passam imunes às críticas.
Com uma caracterização marcante e um elenco entrosado, os grandes destaques são Margot Robbie e Allison Janney. A primeira, no melhor desempenho da carreira, consegue construir uma protagonista de personalidade volátil e contraditória, carregando no olhar e nas expressões os efeitos da violência e do controle sofridos. Favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, Allison Janney tem muitos recursos de figurino para compor a personagem, mas mostra a força da interpretação no olhar profundo e e no tom dos discursos. O efeito, como todo o resto, é contraditório e mostra uma mãe impiedosa e violenta que, de alguma forma torta, tem carinho pela filha.
Valorizado pela produção e pela ótima trilha sonora, que ajuda a conduzir a narrativa, "Eu, Tonya" cria um roteiro que costura diferentes versões sobre uma mesma e tragicômica história sobre erros e aparências. O resultado é um filme curioso, estranho até, mas que consegue "mergulhar" o espectador no enredo, mesmo diante de tantas contradições. Mas, o que é a vida se não uma sucessão delas?
EU, TONYA
DATA DE LANÇAMENTO: 15 de fevereiro
COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)
Já crescida e participando de competições oficiais, a patinadora começa a entender mais sobre a carreira que escolheu, que, além do talento para o esporte, leva muito em consideração a aparência e o ambiente familiar da competidora. Isso faz com que Tonya se frustre com o tratamento dado a ele por alguns juízes de campeonatos, que a julgam além dos critérios esportivos. Buscando o reconhecimento na carreira, a jovem se dedica a executar um movimento que, até então, não tinha sido feito em competições por outras patinadoras.
Além do já conturbado ambiente familiar, Tonya começa um relacionamento com Jeff Gillooly (Sebastian Stan), que, a princípio, se mostra um homem amoroso, mas, aos poucos, revela uma personalidade violenta e descontrolada. As brigas constantes entre eles acabam em chutes e socos, que ferem, principalmente, a patinadora. Entre idas e vindas, os dois acabam se casando, mas a violência continua e a relação acaba afetando a carreira de Tonya.
Após uma participação decepcionante nas Olimpíadas e um episódio de descontrole, a patinadora se afasta das competições, mas recebe uma nova chance para tentar ganhar uma medalha olímpica. Sua principal rival nessa fase, no entanto, é a patinadora Nancy Kerrigan (Caitlin Carver), que desponta como uma das favoritas da equipe norte-americana. Tudo se complica quando Tonya se vê diante de uma conspiração, que culmina em um ataque que quebra o joelho da competidora e transforma o esporte em um caso de polícia.
O roteiro de "Eu, Tonya" é construído a partir de depoimentos dados pelas figuras envolvidas na história, simulando um falso documentário. Isso faz com que a narrativa não se prenda apenas ao fatos narrados pela patinadora e também mostre as demais versões para aqueles acontecimentos. Isso faz com que, constantemente, os personagens rompam a chamada "quarta parede" e comecem a dialogar com o espectador, quase que numa tentativa de emplacar suas verdades. É claro que, por conta disso, a história entra em contradições, mas essa parece mesmo ser a intenção do filme, que consegue, com isso, um retrato mais genuíno da vida e dos personagens retratados.
Apesar de simpatizar com aquelas figuras, em nenhum momento, a história se propõe a justificar os aspectos problemáticos e os erros deles. Para isso, por mais trágicos que sejam os episódios, a narrativa escolhe oscilar entre o deboche, a ironia e o inusitado para narrar os acontecimentos. O roteiro também carrega certa dose de crítica ao questionar o aspecto elitista do esporte em questão, o culto às aparências e, até mesmo, ao estilo de vida norte-americano. A construção do "herói" e o afinco semelhante para "destruir" essa figura diante de um espetáculo midiático também não passam imunes às críticas.
Com uma caracterização marcante e um elenco entrosado, os grandes destaques são Margot Robbie e Allison Janney. A primeira, no melhor desempenho da carreira, consegue construir uma protagonista de personalidade volátil e contraditória, carregando no olhar e nas expressões os efeitos da violência e do controle sofridos. Favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, Allison Janney tem muitos recursos de figurino para compor a personagem, mas mostra a força da interpretação no olhar profundo e e no tom dos discursos. O efeito, como todo o resto, é contraditório e mostra uma mãe impiedosa e violenta que, de alguma forma torta, tem carinho pela filha.
Valorizado pela produção e pela ótima trilha sonora, que ajuda a conduzir a narrativa, "Eu, Tonya" cria um roteiro que costura diferentes versões sobre uma mesma e tragicômica história sobre erros e aparências. O resultado é um filme curioso, estranho até, mas que consegue "mergulhar" o espectador no enredo, mesmo diante de tantas contradições. Mas, o que é a vida se não uma sucessão delas?
EU, TONYA
DATA DE LANÇAMENTO: 15 de fevereiro
COTAÇÃO: ★★★★ (ótimo)
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