Diante de tantas discussões e
estatísticas sobre escolhas guiadas pela diversidade de etnias, culturas e
gêneros, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood fez dessa
representatividade uma bandeira na cerimônia do Oscar deste ano. A consagração
do favorito “A Forma da Água”, que saiu com quatro estatuetas, também reforçou
a discurso.
No ápice dos debates sobre a
presença feminina nas produções e das denúncias dos casos de assédio, a
indústria do cinema optou por misturar o tema com as demandas sobre inclusão de
negros, gays, latinos e outras categorias com menos espaço nas produções.
Prevendo discursos inflamados
sobre esses temas, a Academia “desenhou” a premiação de 90 anos do Oscar para
privilegiar esse tom político e engajado. Com falas pontuais e menos enfáticas do
que em premiações anteriores, foram as manifestações da própria Academia que
falaram mais alto.
Entre os premiados, a atriz
Frances McDormand, de “Três Anúncios Para um Crime”, subiu ao palco e pediu que
todas as mulheres indicadas se levantassem, reforçando a necessidade de mudança
da visão sobre a presença feminina nas produções.
As denúncias contra os casos de
assédio na indústria, especialmente as vítimas da conduta abusiva do produtor
Harvey Weinstein, subiram ao palco e clamaram por mais respeito e diversidade.
O apresentador Jimmy Kimmel fez piadas contra Weinstein e a visão machista que
ainda persiste na indústria.
A vitória de “A Forma da Água” no
principal prêmio da noite também reforçou o discurso adotado. A fábula de amor
entre uma faxineira muda e uma criatura aquática também serve ao tema.
Colocando no centro da cena personagens ainda pouco retratados, a escolha pelo
filme soou coerente com o discurso.
Guillermo Del Toro, o terceiro
mexicano premiado como melhor diretor em cinco anos, fez referência à presença
de imigrantes na indústria do cinema. Em um momento em que o presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, dispara opiniões inflamadas sobre a presença
dessas pessoas no país, o discurso também ganhou importância.
Se a representatividade não veio
na categoria de direção, a Academia passou a imagem de que está atenta à
questão premiando “Corra!” como melhor roteiro original. Com isso, Jordan Peele
se tornou o primeiro negro a vencer a categoria em 90 anos.
No Oscar de melhor filme
estrangeiro, outra mensagem sobre diversidade: “Uma Mulher Fantástica”, do
Chile, se tornou a primeira produção estrelada por um transexual a levar um
prêmio.
Com todos os discursos sobre
representatividade feitos, é esperado que a indústria do cinema aplique as demandas apresentadas, já que, mais do que falar sobre isso, é preciso agir
para alterar esse cenário. Afinal, como foi dito na própria cerimônia do Oscar,
todos querem se ver no cinema.
Outros prêmios
Além de melhor filme e direção, “A
Forma da Água” ainda levou mais duas estatuetas: melhor design de produção e
trilha sonora original.
“Dunkirk”, do diretor Christopher
Nolan, saiu com três prêmios técnicos: melhor edição, mixagem de som e edição
de som. “Blade Runner 2049”, um dos esnobados nas categorias principais, venceu
em efeitos visuais e fotografia.
Gary Oldman confirmou o
favoritismo e venceu como melhor ator pela interpretação de Winston Churchill
em “O Destino de uma Nação”, filme que também levou o Oscar de melhor cabelo e
maquiagem.
O também favorito “Me Chame Pelo
Seu Nome” levou como melhor roteiro adaptado, transformando James Ivory, de 89
ano, no ganhador mais velho da história do Oscar.
Vencedores
Melhor Filme: “A Forma da Água”
Melhor Atriz: Frances McDormand,
de “Três Anúncios Para um Crime”
Melhor Ator: Gary Oldman, de “O
Destino de uma Nação”
Melhor Diretor: Guillermo Del
Toro, de “A Forma da Água”
Melhor Atriz Coadjuvante: Allison
Janney, de “Eu, Tonya”
Melhor Ator Coadjuvante: Sam
Rockwell, de “Três Anúncios Para um Crime”
Melhor Roteiro Original: Jordan
Peele, de “Corra!”
Melhor Roteiro Adaptado: James
Ivory, de “Me Chame Pelo Seu Nome”
Melhor Filme Estrangeiro: “Uma
Mulher Fantástica”
Melhor Design de Produção: “A
Forma da Água”
Melhor Fotografia: “Blade Runner
2049”
Melhor Figurino: “Trama Fantasma”
Melhor Canção: "Remember Me", de “Viva
– A Vida é uma Festa”
Melhor Edição: “Dunkirk”
Melhor Mixagem de Som: “Dunkirk”
Melhor Edição de Som: “Dunkirk”
Melhor Animação: “Viva – A Vida é
uma Festa”
Melhor Curta de Animação: “Dear
Basketball”
Melhor Curta: “The Silent Child”
Melhor Trilha Sonora: “A Forma da
Água”
Melhor Documentário: “Ícaro”
Melhor Documentário em
Curta-Metragem: "Heaven is a Traffic Jam on the 405"
Melhor Cabelo e Maquiagem: “O
Destino de uma Nação”
Melhor Efeito Visual: “Blade
Runner 2049”
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