A trama se passa no fim da década de 70, quando o policial novato Ron Stallworth (John David Washington), impaciente por um trabalho que faça diferença, coloca em prática uma ideia praticamente absurda: se infiltrar no Ku Klux Klan, grupo que acredita na supremacia branca e com um histórico de violência e discriminação contra os negros. O principal desafio para a empreitada é que Ron é negro e, por isso, não poderia sequer conhecer por dentro os hábitos e as ações dos membros da organização.
A ousadia do policial é justamente tentar driblar o julgamento de aparência que os integrantes do Ku Klux Klan fazem e, para isso, ele usa o bom e velho telefone. O contato de Ron com o grupo é feito através de Walter Breachway (Ryan Eggold), que acredita no interesse do protagonista em se juntar à organização. Depois de devidamente registrado, Ron é convidado para conhecer os outros associados e, para não colocar tudo a perder, manda Flip Zimmerman (Adam Driver), um policial branco, em seu lugar.
Tentando encaixar o discurso dito ao telefone com a falsa personalidade do policial que aparece nas reuniões do grupo, Ron consegue ficar a par dos planos da seita, mesmo que desperte alguma desconfiança de Felix (Jasper Pääkkönen), um dos integrantes mais radicais da organização. Essas dúvidas, no entanto, não impedem que o Zimmerman seja convidado para um encontro com David Duke (Topher Grace), um dos líderes mais conhecidos do Ku Klux Klan.
Analisado como entretenimento, "Infiltrado na Klan" possui um roteiro redondo, amparado por uma construção de personagens bastante interessante, com trajetórias bem desenhadas e arcos narrativos completos, sempre pontuados por um humor sarcástico, que funciona muito bem na proposta. Spike Lee, também roteirista do longa, cria situações e diálogos inspirados, que envolvem o espectador na tarefa do policial negro de se infiltrar no grupo de supremacistas brancos. Em alguns momentos, por exemplo, desconhecendo a cor da pele de Ron, integrantes do grupo despejam discursos preconceituosos ao telefone e criam sequências que mostram o quão ridículas soam essas ideias.
Tendo uma dramaturgia muito bem estruturada, "Infiltrado na Klan" consegue concentrar força na proposta de também levar ao espectador um discurso político e social bastante poderoso e oportuno. A temática do preconceito e da intolerância, mais atual do que nunca, conduz o roteiro de Lee e cria assustadoras associações com ideias propagadas em redes sociais e no mundo fora dos espaços virtuais. Além de retratar as ações do Ku Klux Klan, o longa também propõe críticas políticas a governantes que disseminam o ódio, a segregação e o preconceito, não só contra negros, mas também em relação a outros segmentos da sociedade.
Sobre a retratação dos membros do Ku Klun Klan, há quem considere certa caricatura nos personagens, mas, é só procurar entrevistas e mensagens reais de integrantes desse e de outros grupos similares para perceber um alinhamento preciso. O próprio filme faz essa comparação quando se conecta à realidade e mostra os acontecimentos ocorridos, em 2017, na cidade de Charlottesville, na Virgínia, quando supremacistas brancos entraram em confronto com manifestantes antirracismo. O resultado foi de violência, mortes e um palco assustador de intolerância.
Em um elenco bastante entrosado com a proposta do diretor, os grandes destaques são John David Washington e Adam Driver, que vivem os policiais que se envolvem com os membros do Ku Klux Klan. Representando a importância do ativismo da época pela causa, a atriz Laura Harrier tem um papel interessante na história. O núcleo de supremacistas brancos é todo muito alinhado e consegue mostrar o preconceito entranhado nessas pessoas e, ao mesmo tempo, ajudar o espectador no questionamento desses conceitos abomináveis.
Com uma carreira elogiada, Spike Lee atinge o ápice de sua filmografia com "Infiltrado na Klan", encontrando o equilíbrio ideal entre entretenimento e reflexão. Além de proporcionar uma ótima dramaturgia para aqueles que procuram apenas isso, o longa acaba agregando um poderoso discurso a essa experiência, que gera uma discussão necessária em qualquer tempo, mas, especialmente, nos atuais. Sem dúvida, uma bela forma de fazer cinema, que não valoriza somente discursos rebuscados e tão pouco se submete a ser apenas uma diversão vazia.
INFILTRADO NA KLAN
COTAÇÃO: ★★★★★ (excelente)
Analisado como entretenimento, "Infiltrado na Klan" possui um roteiro redondo, amparado por uma construção de personagens bastante interessante, com trajetórias bem desenhadas e arcos narrativos completos, sempre pontuados por um humor sarcástico, que funciona muito bem na proposta. Spike Lee, também roteirista do longa, cria situações e diálogos inspirados, que envolvem o espectador na tarefa do policial negro de se infiltrar no grupo de supremacistas brancos. Em alguns momentos, por exemplo, desconhecendo a cor da pele de Ron, integrantes do grupo despejam discursos preconceituosos ao telefone e criam sequências que mostram o quão ridículas soam essas ideias.
Tendo uma dramaturgia muito bem estruturada, "Infiltrado na Klan" consegue concentrar força na proposta de também levar ao espectador um discurso político e social bastante poderoso e oportuno. A temática do preconceito e da intolerância, mais atual do que nunca, conduz o roteiro de Lee e cria assustadoras associações com ideias propagadas em redes sociais e no mundo fora dos espaços virtuais. Além de retratar as ações do Ku Klux Klan, o longa também propõe críticas políticas a governantes que disseminam o ódio, a segregação e o preconceito, não só contra negros, mas também em relação a outros segmentos da sociedade.
Sobre a retratação dos membros do Ku Klun Klan, há quem considere certa caricatura nos personagens, mas, é só procurar entrevistas e mensagens reais de integrantes desse e de outros grupos similares para perceber um alinhamento preciso. O próprio filme faz essa comparação quando se conecta à realidade e mostra os acontecimentos ocorridos, em 2017, na cidade de Charlottesville, na Virgínia, quando supremacistas brancos entraram em confronto com manifestantes antirracismo. O resultado foi de violência, mortes e um palco assustador de intolerância.
Em um elenco bastante entrosado com a proposta do diretor, os grandes destaques são John David Washington e Adam Driver, que vivem os policiais que se envolvem com os membros do Ku Klux Klan. Representando a importância do ativismo da época pela causa, a atriz Laura Harrier tem um papel interessante na história. O núcleo de supremacistas brancos é todo muito alinhado e consegue mostrar o preconceito entranhado nessas pessoas e, ao mesmo tempo, ajudar o espectador no questionamento desses conceitos abomináveis.
Com uma carreira elogiada, Spike Lee atinge o ápice de sua filmografia com "Infiltrado na Klan", encontrando o equilíbrio ideal entre entretenimento e reflexão. Além de proporcionar uma ótima dramaturgia para aqueles que procuram apenas isso, o longa acaba agregando um poderoso discurso a essa experiência, que gera uma discussão necessária em qualquer tempo, mas, especialmente, nos atuais. Sem dúvida, uma bela forma de fazer cinema, que não valoriza somente discursos rebuscados e tão pouco se submete a ser apenas uma diversão vazia.
INFILTRADO NA KLAN
COTAÇÃO: ★★★★★ (excelente)
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